Pé na Estrada – Almeida, Castelo Rodrigo & Marialva

João e eu somos apaixonados pelo norte de Portugal e pelos castelos raianos.

Castelo raiano é o nome que se dá aos castelos fortaleza construídos na fronteira com a Espanha para garantir a integridade territorial de Portugal contra possíveis investidas castelhanas.

Nessa viagem, nosso foco era a fortaleza de Almeida, que há muito queríamos conhecer.

Organizamos a viagem e iniciamos por buscar um lugar aconchegante para a estadia.

Após alguma procura, decidimos não ficar exatamente em Almeida, mas sim no Vale das Éguas, uma aldeia há alguns quilômetros de distância de Almeida. Nos encantamos pelas imagens de uma pequena pousada rural, que fez toda graça e diferença na viagem. Falo de Carya Tallaya.

A estadia no Vale das Éguas

Vale das éguas

A pousada fica numa aldeia que hoje possui 28 moradores, todos com mais de 60 anos, pelo que soubemos. Nas férias, a população aumenta para mais uns 300, com a vinda dos emigrados, os portugueses que trabalham em outros países, mas que nas férias voltam para suas aldeias.

A pousada é composta de quatro casas antigas de aldeia, todas reformadas com muito bom gosto, com todo o conforto e charme do campo. Cada casa tem o nome de uma flor. Rosmarinho, onde ficamos, Violetas, Bela Luz e Alecrim. A decoração das casas tem a predominância da cor da flor que dá o nome à acomodação.

Cesta de café da manhã no vale das éguas

O café da manhã é deixado à porta numa cesta de palha típica portuguesa, com tudo o que se pode esperar de um café no campo. Um charme.

De Carya Tallaya, que conforme nos foi explicado, em latim significa povoação fortificada, e seria, segundo documentos históricos, os primórdios populacionais que dariam origem ao atual Vale das éguas, partimos para Almeida pelas estradas secundárias que cortam a região.

 Só o passeio por essas estradas já é um encanto. Apesar de mão dupla, são um pouco mais largas que um carro e vão cortando campos e paisagens belíssimas onde só o que se vê são rochas, oliveiras, sobreiros, flores silvestres roxas e amarelas  e muitos, mas muitos pássaros.

A região é repleta de castelos. Perto de Vale das éguas podemos contar 5 castelos medievais em outras aldeias históricas próximas, como Belmonte e Sortelha, mas essas ficam para uma outra conversa.

Seguimos o caminho em direção à Almeida

Em Almeida percorremos a pé todos os cantos da fortaleza em forma de estrela que teve sua construção iniciada no século XVII e terminada no século XVIII

Em agosto de 1810 a fortaleza foi cercada por tropas francesas que conseguem explodir o paiol de pólvora destruindo casas, castelo e muralha, o que permitiu a invasão e a capitulação da população e dos militares portugueses.

Durante nossa visita almoçamos num pequeno restaurante local que se chama 1810. A indicação partiu de um senhor de uma lojinha de artesanato local que nos disse que  a cozinheira lá cozinha muito bem e ele sempre leva a comida de lá para comer em casa.

Comemos os dois um prato de uma dose, muito bem servido, e bebemos o vinho tinto maduro da casa, água e café e pagamos 15 euros por tudo.

Durante as guerras liberais, absolutistas apoiadores de Dom Miguel e Liberais, apoiadores de Dom Pedro IV, o Dom Pedro I do Brasil, também entraram em confronto na fortaleza, que somente em 1927 encerrou sua história de utilidade militar para integrar o conjunto dos monumentos nacionais portugueses

Em nossa caminhada pela fortaleza visitamos as ruinas do castelo que teve a construção ordenada por D. Dinis para garantir a fronteira após o Tratado de Alcanices de 1297 e foi reformado no período manuelino, a torre do relógio de 1830, que hoje ocupa o lugar de uma antiga igreja matriz da Nossa Senhora das Candeias, o picadeiro d`El Rey onde existiu um antigo arsenal e onde hoje se localiza uma escola de equitação onde se pode agendar aulas de volteio, de sela e passeio de charrete. Em nossa caminhada ainda vislumbramos as casas de arquitetura militar que serviram aos habitantes da fortaleza.

De Almeida para Castelo Rodrigo: Uma pérola de aldeia situada na Serra da Marofa.

Diz a lenda que o nome desta serra vem do tempo que um jovem fidalgo se apaixonou por Ofa, uma linda filha de um judeu do lugar. O amor dos dois era impossível devido à impedimentos religiosos.

Foi nessa época que D. Manuel I ordena a expulsão de Portugal de todos os judeus que não aceitassem a conversão, condição estabelecida no acordo pre-nupcial do rei com a infanta D. Isabel, filha dos reis católicos, em 1496.

A família de Ofa aceitou a conversão, o que permitiu o namoro e depois o casamento.  Durante o tempo do namoro, o fidalgo ia de suas terras até a região de Castelo Rodrigo para “amar Ofa” o que teria originado o nome  de serra da Marofa.

Já o nome Castelo Rodrigo vem de D. Rodrigo, que defendeu a fortaleza em 1296, antes desta ter sido definitivamente integrada ao território português pelo Tratado de Alcanizes em1297.

A caminhada pelas ruelas medievais de castelo Rodrigo é fascinante.

Começamos pela silhueta da cabeça do Mouro, uma formação natural rochosa que parece um mouro perpetuado em rocha, saudoso dos tempos em que o castelo era uma fortaleza árabe.

Também em Castelo Rodrigo encontramos uma casa com o símbolo dos templários em Portugal.

Nas ruinas do castelo podemos ver os desenhos de Duarte d `Armas, contratado por D.Manuel I para fazer o levantamento das 51 fortalezas existentes nas fronteiras entre Portugal e da então futura Espanha. Os desenhos estão reunidos no códice  “Livro das Fortalezas. O desenho mostra o castelo em toda sua glória e detalhes.

No desenho podemos ver a torre de menagem mandada construir por D.Dinis após o Tratado de Alcanizes e destruída nas invasões francesas. Hoje vemos apenas as ruínas.

Castelo Rodrigo recebeu a visita de Saramago, o Nobel de literatura.

 Em Castelo Rodrigo termina o trajeto português do elefante de nome Salomão, oferecido por D. João III ao arquiduque da Austria. Saramago conta em sua obra de 2008, a saga deste animal que percorre a Europa para satisfazer os caprichos reais.

Se olharmos com cuidado também veremos as cruzes nas casas que marcavam as residências dos judeus convertidos, segundo nos informou Maria do Rosário, a dona da loja Ginjinha do Castelo, que gentilmente nos acompanhou numa pequena caminhada pelas ruelas da vila.

Na Ginjinha do Castelo experimentamos a amêndoa doce, iguaria do lugar, e bebemos o vinho de Castelo Rodrigo. Maria do Rosário também nos mostrou as amendoeiras que na época da floração deixam a serra como se estivesse em neve.

E, por fim, Marialva

Seguindo nosso caminho, partimos para Marialva, sempre pelas estradas secundárias, o que significa que descemos e subimos as encostas no rio Côa. Um passeio deslumbrante e quem sabe, por onde passou o elefante do rei e de Saramago.

Fato é que é um cenário espetacular.

Atravessando o Côa chegamos a Marialva, que tinha muita curiosidade de conhecer por ser as terras onde mandava o Marquês de Marialva, sendo o sexto marquês o responsável pelas negociações de casamento da princesa Leopoldina com  D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal. Dizem as más línguas que este sexto marquês teria sido amante de Carlota Joaquina e um possível pai biológico de D. Miguel.

Em Marialva aprendemos que os primeiros habitantes da região foram os aravos, antigo povo da Lusitânia, seguidos pelos romanos e depois pelos árabes.

Somente em 1063, D. Fernando o Magno, conquista definitivamente as Beiras.

O castelo, que conseguimos ainda visitar, pois chegamos pouco antes de fechar, possui muralhas ovaladas.

Dentro podemos visitar a cidadela em ruínas, onde algumas construções ainda se destacam, como a “casa da judia, a igreja de Santiago  e a igreja de São Pedro.

Fora das muralhas, caminhamos pela vila, que está muito bem conservada.

De Marialva seguimos para Trancoso.

Trancoso ainda merece uma volta, pois já chegamos muito tarde.  O castelo já estava fechado.  Essa fica para uma outra volta.

2 comentários Adicione o seu

  1. Flavia Serra disse:

    Adorei!
    Quero conhecer tudo!

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  2. Ana Paula Severiano disse:

    Bom dia .

    <

    div>Estou neste momento

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