Depois de alguns anos passados, acho que 5, nossos amigos de viagens, Angela e Renato, retornaram ao Porto para uma breve temporada.
O desafio era mostrar um Portugal que ainda não conheciam e a escolha foi o “Portugal profundo” e um de meus lugares favoritos por aqui.
Passamos por Abrantes para visitar os cunhados e seguimos para Cró para nos hospedar no complexo termal, situado entre Rapoula do Coa e Seixo do Coa.
Só o nome despertava curiosidade em nossos amigos.
A região possui indícios de permanência de romanos, o que poderia indicar a utilização da água para fins medicinais desde estes tempos. Por iniciativa da Câmara de Sabugal no ano 2000, foi autorizada a construção de uma nova estação termal. E lá fomos nós para o Hotel Rural do Cró.
A região é de uma beleza quase agreste. O bom por lá é caminhar, andar de bicicleta e visitar as aldeias das cercanias e ao final do dia, descansar na piscina termal do hotel.

Do hotel fomos passear em Monsanto, que fica a uma hora de carro passando por Penamacor, que também visitamos.
Penamacor foi local onde teria reinado Vamba, rei dos Godos, que governou a península Ibérica de 672 a 682 d C .
D. Sancho I conquistou Penamacor, derrotando os muçulmanos que então ali viviam e outorgou-lhe foral em 1199 elevando-a ao estatuto de vila. Doou a vila aos cavaleiros templários que a fortificaram e ampliaram o castelo, construindo a torre de menagem. Muita história!
Depois de Penamacor, chegamos em Monsanto que possui o título de “aldeia mais portuguesa de Portugal”.

Monsanto possuía foral, concedido por vários reis desde os tempos de Afonso Henriques.
“O Foral tornava um concelho livre do controlo feudal, transferindo o poder para um concelho de vizinhos (concelho), com a sua própria autonomia municipal. Por conseguinte, a população ficava direta e exclusivamente sob o domínio e jurisdição da Coroa, excluindo o senhor feudal da hierarquia do poder.
O Foral garantia terras públicas para o uso da comunidade, regulava impostos, pedágios e multas e estabelecia direitos de proteção e deveres militares dentro do serviço real.
Diretamente associada à existência de um Foral estava o pelourinho. Era erguido na praça principal da vila ou cidade quando o Foral era concedido e simbolizava o poder e autoridade municipais, uma vez que era junto ao pelourinho que se executavam sentenças judiciais de crimes públicos que consistissem em castigos físicos.”
(fonte: https://www.cm-arruda.pt/foral-ou-forais)
E pasmem, é lá que se “localiza” a “Dragonmount” de “House of Dragons”, para aqueles que conhecem e são fãs da saga.

Ainda que ali não vivessem mais os dragões, Monsanto é um encanto!
Caminhamos pela aldeia inteira e subimos até as ruinas do castelo, onde ocorreram as filmagens, num caminho assinalado por cartazes do trabalho com indicação do momento em que as cenas aparecem no episódio 10 da temporada 1.
Monsanto é muito antiga, existindo vestígios de permanência de população desde o paleolítico, passando por visigótica, lusitana, romana e árabe. O mundo passou por ali!
Dom Afonso Henriques conquistou e tomou Monsanto dos Mouros e a doou para os cavaleiros templários, que construíram o castelo, ampliando a construção anterior. No castelo podemos ver a capela de São Miguel do sec XII.
De Monsanto seguimos para Sortelha, outra aldeia histórica imperdível provavelmente do século XIII e que já queríamos visitar há algum tempo e inclusive mencionamos no post sobre o passeio a Almeida e Castelo Rodrigo.
Caminhar por Sortelha é fácil e podemos visitar o castelo medieval, e admirar as casas, uma janela manuelina, e ruelas recuperadas.
Uma observação prática: em Sortelha, logo a seguir à entrada das muralhas, já adentrando a vila, existe um banheiro público de primeira qualidade.
Também no caminho vimos a sinalização para as “Termas Rádium”, mencionada pela gentil recepção do hotel Cró que nos indicou o nosso percurso.
As Termas Rádium, que fizeram sucesso no início do século XX, eram tidas como benéficas à saúde e até chegaram a ser engarrafadas para exportação com o slogan “Água Radium – dá saúde, vigor e força”.
Após o avanço do conhecimento dos efeitos da radioatividade as termas foram fechadas e hoje restam apenas as ruínas. (http://www.aguas.ics.ul.pt/guarda_cpena.html)

Depois de muito deslumbramento, retornamos a Cró para um reparador mergulho na piscina.
Embora o hotel tenha um restaurante muito simpático, também fomos a Sabugal para jantar no restaurante Robalo onde nos fartamos com o bacalhau e o vinho da casa, bem servido e a preço justo. O vinho da casa é do Douro e entrega o que podemos desejar de um vinho despretensioso e de qualidade para uma refeição sem preocupações.
No caminho de volta ao Porto ainda visitamos Belmonte, terra de Pedro Alvares Cabral, onde podemos visitar as ruínas do castelo.
No centro da vila há o Museu dos Descobrimentos, que se propõe a levar o visitante numa “viagem pelo tempo”, revivendo a jornada de Cabral.
O museu fica aberto de terça a domingo e o horário de abertura varia conforme a estação. Maiores informações pelo site https://cm-belmonte.pt/diretorio/museu-dos-descobrimentos/
Também em Belmonte se encontra uma considerável comunidade de “cripto-judeus” ou “marranos”. A presença judaica em Belmonte remonta a 1297.

Para quem quiser saber mais sobre a história desta comunidade pode ve-la acontecer no filma “SAFARAD” de Luis Ismael, cineasta português, que contou nas telas a história do capitão Barros Basto que “fundou a Comunidade Judaica do Porto na primeira metade do século XX, 400 anos depois do decreto de D. Manuel expulsando os judeus.”
No link https://www.youtube.com/watch?v=avCv0sqRyPA .
Ainda não esgotamos as maravilhas do Norte de Portugal e ainda bem. Muitos caminhos a percorrer. Nos vemos pela estrada!
Que delícia de relato, deu vontade de fazer essa viagem! Já coloquei na lista de próximas viagens.
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